Ratos e mais ratos saíam de dentro do meu armário. Ratos pequenos, minúsculos, que faziam um barulho diminuto e fino enquanto caíam numa cascata de pêlos brancos da prateleira mais alta do móvel. Eles não encontravam a luz do corredor comum entrando pela porta aberta do meu apartamento. Davam cabeçadas no batente e retornavam para o meio da sala a correr em círculos, no escuro, como aqueles carrinhos de controle remoto bate-volta. Um rato grande e gordo que respirava alto e tinha voz de gente mordeu e arranhou minha perna. Quando senti a dor dos dentes dele entrando na carne da minha panturrilha peguei o rato pela garganta e disse ´´escuta aqui, seu rato filho da puta´´, e fui colocando ele pra fora de casa. Mas antes de despejá-lo peguei a pá de lixo, deitei o rato no chão e com a lâmina da pá acertei o bicho no meio, fazendo força pra parti-lo em dois. O rato parecia morto – mas estranhei que não saiu sangue nem tripas dele. Eu o deixei estirado de bruços na cozinha, entre a pá e a vassoura, levantei e voltei à cama pra continuar meu sono – era madrugada. Quando percebeu que havia me enganado, o rato se levantou e saiu correndo pela porta da sala, rumo ao elevador. Percebi a fuga e gritei pro meu vizinho que é policial ´´a algema! me dá tua algema!´´. O vizinho me deu a algema e eu corri o mais rápido que pude atrás do bicho. Alcancei o rato ainda no meio do corredor, pulei nas costas dele e o imobilizei. As patas dianteiras dele já não eram patas, mas umas mãos imundas com unhas grandes e encardidas. Manietado e em pé, o rato já não era rato, mas um desses meninos sujos e loucos de crack que vejo todos os dias zumbizando em frente ao Copan. Enquanto eu o conduzia aos empurrões ao elevador, uma mulher toda trôpega cruzou nosso caminho. O nariz dela estava cheio de cocaína, o rímel derretido até às bochechas, a calça aberta e a calcinha de tela deixando aparecer a xoxota e a virilha mal depiladas. Havia uma exposição de pôsteres feitos em xilogravura nos pilares de cada andar do prédio, e os rostos estampados nos pôsteres eram de moradores do Copan que eu conhecia. Quando chegamos ao térreo, o menino virou rato de novo e escapou da algema e de mim, e se meteu numa fresta escura sob o balcão da vídeolocadora que fica em frente à saída do prédio. Esse texto é só pra avisar o Paulo, dono da vídeolocadora, que tem um rato nóia solto no estabelecimento dele.
Muito bom! Adorei o conto ^^
obrigada, querido!
beijo
olá, Sabrina!
muito bom reve-la!
utilidade pública… os personagens estão fugindo dos filmes pela locadora do Paulo!
grande beijo!
ei, querido
tudo bem?
que bom que vc voltou. te visito amiúde!
e, ó, cá pra nós, na surdina: acho que é o paulo que esta pondo a galera lado B do universo pra assombrar os moradores e levar mais cliente pra locadora.
beijo!
Adorei …..a parte do filho da puta……fantastco!